Uma vitória do medo
Fiquei sabendo que um dos caras que trabalhava na loja onde compro quadrinhos e materiais de miniatura pediu demissão. O motivo é que ele desenvolveu agorafobia, que é o medo de certos espaços ou lugares onde a pessoa se sente vulnerável.
Pelo que me contaram, a coisa já vem progredindo faz um tempo, mas agora chegou a um ponto onde o cara não consegue sair de casa para ir trabalhar. Tem medo. 😯
E, como acho que deve ser bastante comum porque conheço outras pessoas assim, o cara não quer procurar ajuda. Disse que vai se cuidar “sozinho”, ou seja… não vai, pois já sabe que tem problema faz tempo e até agora não fez nada para remediar. Ou, se tentou fazer algo sozinho, obviamente não resolveu.
Eu não entendo como é que essa gente deixa um negócio desses chegar ao ponto onde elas não conseguem ter uma vida normal, ou pior, não conseguem trabalhar. Não ficam em casa sozinhas, não saem de casa sozinhas, não dirigem, não pegam ônibus… 😐
Na verdade, acho que esse pessoal tem dois problemas, não um. Além da fobia, ainda por cima sofrem de negação. Afinal, o que custa admitir que tem um problema que é óbvio para todo mundo, e procurar ajuda?
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Isso tá com mais cara de sindrome do panico que agorafobia.
Mas é assim mesmo Mauro, eu que já passei por coisa semelhante sei como é dificil. Na verdade o que esse cara tá fazendo é pedindo ajuda, da maneira que ele consegue no momento. Ele precisa de alguém dedicado e que consiga fazer ele procurar ajuda médica, pois como você falou (e está certissimo) essas coisas não passam com o tempo, não se resolvem sozinhas. Precisa de médico sim!
Helô, pelo que li no link que eu coloquei no meu post, a síndrome de pânico é frequentemente associada à agorafobia…
Quanto ao seu caso específico, você tomou providências quando a coisa ficou feia, não? Então não está incluída na lista das pessoas que ignoram e não fazem nada. 😛
Não nego que é difícil, mas tem gente que por mais que você fale e aconselhe, continua a fingir que não tem nada de errado e absolutamente se recusa a procurar ajuda. Aí dá licença, né? Também não dá para você acorrentar a pessoa e arrastar ela até o médico.
Hehe, não disse que eu me incluia na lista, apesar de já ter feito sim parte dela.
E infelizmente tem gente que só se trara quando algo extremado é feito, como o seu exemplo de arrastar até o médico. Só espero sinceramente que esse cara tenha alguém por perto que se importe tanto que esteja disposto a fazer isso se for necessário!
Mauro, num caso extremo, o pior que uma pessoa próxima é dar de ombros e deixar a vítima trancafiado em sua própria “certeza”. Certos problemas não é nada fácil encarar. Requerem mais que racionalidade. Auto-ajuda não entra, e negação é puro escudo, pavor mesmo.
Cada pessoa tem um eixo pessoal de problemas que pode até jamais fazer sentido para os outros, e onde a comunicação seja complicada ou mesmo impraticável… mas isso não quer dizer que se deva considerar as certezas exprimidas por ela, e deixar que fique pela própria conta. Força de vontade baseada na racionalidade é um privilégio de poucos, e mesmo esses estão sujeitos à falha. Aprendi isso a duras penas.
Acho que é complicado de entender, mas quem nunca fez algo, sabendo que estava errado?
“o que custa admitir que tem um problema”, em alguns casos, Mauro, custa tudo o que você tem e mais um pouco ou pelo menos parece que custa.
Ai! Ai! Estou finalmente levando pedrada dos meus leitores! Não estou acostumado com isso… 😉
Gente, eu entendo que é difícil, complicado, assustador, etc. Só que mesmo assim tem que ser feito. Não tem desculpa.
Eu já passei por problemas na minha vida, inclusive tomo remédios por conta de uma depressão que está sempre rondando por aqui. Não é como se eu não soubesse o que é ter problemas. Isso, na verdade, só reafirma o que eu penso.
Se você tem um problema que afeta a sua vida, tem que admitir e procurar ajuda. Caso contrário, você causa mal a todos que estão à sua volta e plenamente conscientes do seu problema, vendo você ser a única pessoa que “parece não perceber”. E, nesse ínterim, quase sempre forçando os efeitos negativos do seu problema nelas, que não tem nada a ver com o pato e só querem ajudar.
O Rique falou que virar as costas é a pior coisa. Eu realmente concordo, mas só até certo ponto. Existe um limite do que você tem que aguentar e sofrer por uma pessoa que recusa ajuda. Depois disso, eu acho plenamente justificável (aliás, até recomendo como auto-preservação) abandonar a pessoa à propria sorte.
Entenda as doenças desse tipo como seres vivos interessados em se preservar. Muitas vezes a doença modifica a sua percepção da realidade a ponto de você REALMENTE acreditar que:
1 – não tem nada de errado OU,
2 – seu problema não tem solução
Vc saiu da sua depressão e provavelmente eu convivo com a minha numa sem maiores restrições pq não tivemos nenhuma manifestação mais violenta e, mesmo assim, nos meus piores momentos, eu preciso me lembrar que é a doença que me faz acreditar que não adianta nada, que meu problema não tem solução.
Mas é uma luta constante e eu já perdi vários rounds. Desde a época que eu decidi operar parei de tomar meu anti-depressivo, sabe-se lá Deus por qual razão! Fiquei bem durante um tempo mas essa semana comecei a sentir os “efeitos” dela de novo e, eu só sei que são os efeitos DELA por que estou muito consciente do meu comportamente e dos meus humores, de outra forma eu acharia que efetivamente estou me sentindo assim. Já marquei com um novo psiquiatra (no Natal decidi mudar de psiquiatra) e vou voltar a tomar o remédio que eu tenho em casa. Mas quem explica por qual razão eu parei de tomar? Eu mesma não sei! Além disso, hj em dia eu consigo me tocar do que está acontecendo e tomar uma atitude antes que seja tarde demais mas pessoas diferentes reagem de formas diferentes a uma mesma doença e, muitas vezes, em momentos diferentes, eu mesma já deixei ir um tantinho mais longe do “seguro” e quase afundei. Doenças mentais não são tão simples quantos as físicas, elas são cheias de artimanhas…
Não é pq vc, ou eu, ou a Helô conseguimos ir buscar tratamento que ele está no mesmo grau de “amadurecimento” e conhecimento da própria doença. Nesse momento ele precisa sim ser acorrentado e arrastado ao médico. Muitas vezes só depois de medicado a pessoa consegue perceber que tinha algo de errado na situação.
Érica, como você vai acorrentar uma pessoa e levá-la à força para o médico? E se ela resiste, o que você faz? Dá uma paulada na cabeça dela? Até onde você vai para levar essa pessoa se ela realmente não quer ir? Por quantos anos você tenta?
Estou tentando dizer que independente de ser difícil ou fácil (e eu reconheço que é difícil), a pessoa tem que procurar ajuda e que as pessoas próximas dela tem um limite para a responsabilidade delas. Depois disso, paciência, a responsabilidade é da pessoa com o problema.
Mesmo porque, quanto mais você facilita a vida da pessoa com o problema, mais ela usa você de “muleta”. Se a pessoa, por exemplo, não quer sair de casa nem para comprar comida, você levar comida para ela em casa todos os dias não vai ajudar, só vai incentivar ela realmente a não sair, já que tem alguém que traz o que ela precisa.
Alguém está entendendo o que eu quero dizer? Que a responsabilidade primária de resolver o problema é da própria pessoa. A família e amigos tem apenas uma parcela limitada de obrigação (se é que podemos dizer que elas tem alguma obrigação para começo de conversa).
A pessoa doente tem que decidir aceitar a ajuda que é oferecida e efetivamente procurar fazer algo à respeito do seu problema, caso contrário ela libera a família e amigos de qualquer obrigação para com ela.
Obviamente, se a pessoa não é lúcida o suficiente para tomar decisões sozinha, interna-se ela à revelia.
Entendo e concordo que conivente com o não tratamento os familiares e amigos não devem ser mesmo pq realmente só estimula a pessoa a não se tratar.
No caso, levar amarrada, pode acabar sendo internar ou barganhar com o que vc tiver disponível. Mas é complicado lidar com doenças mentais na família…
E eu? Acho que estou sofrendo do tal do Winter Blues… Mas concordo com vc, o rapaz tem que procurar ajuda, porque do contrário, a coisa só vai piorar. Beijocas, Be.
Minha avozinha sempre diz que é muito importante manter a sáude mental, a gente vive num mundo em que todos podemos sofrer esse tipo de problema, que já ocorreu na minha família como pode ocorrer na de todo mundo, ela é um bom exemplo, aprender a lidar com os próprios problemas é díficil, mas importante para nossa sanidade.
Quando terminei de ler seu post e antes de ler os comentários eu pensei que o problema maior era a não aceitação do problema da fobia.
Depois de ler os posts, continuo com a mesma opinião e como você Mauro, eu penso que devemos chegar a um certo limite, muita ajuda pode estragar a pessoa, servir de “muleta” com vc. mesmo disse.
A intolerância pode se manifestar em qualquer um, de várias formas e maneiras diferentes…
“Bigotry” é o termo usado por aí, não é?
😉
“Bigotry”, Santiago? Assim você me magoa…
Eu não estou defendendo discriminação e nem a exterminação de gente que tem problemas psicológicos… eu estou dizendo que eles tem que procurar ajuda, que os outros só podem se sentir responsáveis até certo ponto e que quem se recusa a procurar ou aceitar ajuda tem problema de negação… 😐
Mudando um pouco o foco dos comentários até agora: tem um filme francês se não me engano que se chama “Thomas, Thomas” (acho que é assim).
O filme é a história de uma cara (em um futuro bem próximo, tipo em 5 ou 10 anos) que sofre de Agorafobia E Sindrome do Panico, e vive recluso em casa sem sair a alguns anos. Ele só se comunica com o mundo através da internet e videofone. O filme todo é do ponto de vista dele, vendo o mundo pela tela do micro dele, como ele faz…
Corrigindo algumas coisinhas: Thomas Thomas é o nome do protagonista. O filme se chama “Thomas est amoureux” (Thomas in love) e é uma produção franco-belga…
A intenção não é te magoar, Mauro.
Na verdade, em vários assuntos do tipo que geram discussões intensas devido ao teor polêmico ou a opiniões arraigadas mas divergentes, a possibilidade de algum comentário incomodar alguém é grande.
Você sabe que eu sei que você é uma pessoa lúcida, consciente e extremamente inteligente. Apenas ocorre que nesse caso em particular, eu acho que o seu posicionamente se aproxima um pouco da intolerância.
Esse é o tipo de situação em que podemos classificar três posicionamentos genéricos:
1 – O cara é uma vítima e tem poucas chances de se virar sozinho, portanto necessita de ajuda. Comentários e atitudes negativos, duros ou “agressivos” podem ser bastante prejudiciais.
2 – O cara deve ter algum problema. Pode ser que ele só consiga melhorar com ajuda, mas acredito que talvez ele poderia ter alguma chance de se ajudar. Mérito próprio é muito bom em todos os sentidos e talvez fosse uma boa tentar ajudar o cara nesse sentido.
3 – O cara é inteligente o suficiente para compreender que se ele não tomar uma atitude vai se dar mal. Se por escolha própria ele não faz nada e se fecha, é uma pena. Azar dele.
Temos aqui pessoas do tipo 1, do tipo 2 (eu incluso) e do tipo 3 (eu diria que é o seu tipo).
O galho é que quando alguém que não nos incomoda de maneira nenhuma pode se dar mal por uma atitude nossa e escolhemos agir da maneira que vai fazer com que a pessoa se dê mal, o mínimo que eu consigo imaginar é que estamos agindo de uma maneira intolerante. O adjetivo poderia ser pior.
Talvez este seja um daqueles casos em que a sua opinião é tão arraigada que você não vê como poderia prejudicar uma pessoa dessa maneira, mas outros veêm.
Como nunca fui um cara com muito jeito para conversa, talvez eu tenha sido um pouco “blunt” demais.
O termo “bigot” costuma ser usado de uma maneira mais ofensiva do que o termo “intolerante”, mas o significado é o mesmo.
Você não acha que o cara pode ter uma chance muito melhor de se recuperar de o que quer que ele tenha com ajuda?
Santiago, só não estou entendendo uma coisa…
Você diz que “O galho é que quando alguém que não nos incomoda de maneira nenhuma pode se dar mal por uma atitude nossa e escolhemos agir da maneira que vai fazer com que a pessoa se dê mal, o mínimo que eu consigo imaginar é que estamos agindo de uma maneira intolerante“, mas eu sinceramente em nenhum momento achei que estava agindo de uma maneira intolerante. Eu não falei que não é para dar ajuda para uma pessoa dessas ou simplesmente virei as costas para alguém assim. Eu mesmo sempre ajudo a todo mundo que me pede ajuda, e ofereço ajuda quando sei que alguém está com problemas.
Tudo o que eu quis dizer no post é tem pessoas que além dos problemas delas ainda tem mais um, que é fechar os olhos e fingir que não vêem nada. E nos comentários acrescentei que se esse é o caso, a gente tenta ajudar até onde dá, mas quando não dá, paciência, deixa-se a pessoa se virar sozinha então. Não neguei ajuda a ninguém até esse ponto, só afirmei que na minha opinião essa “quantidade” de ajuda é finita se a pessoa não quer fazer progresso.
É capaz da gente estar falando a mesma coisa e simplesmente não estarmos nos conectando. De qualquer forma eu sei que você me conhece bem e não estou magoado não com o que você falou, tá?
Mas Mauro, e nos casos nos quais um dos sintomas da doença ser a pessoa não conseguir enxergar que ela tem um problema ou, que o problema dela tem solução? O que as pessoas “lúcidas” ao redor devem fazer?
Nesse caso deixar de ajudar é como não dar ajuda alguma já que faz parte da doença a negação…