Alguns de vocês devem saber que fui escoteiro por uns 14 anos da minha vida. Saí pouco antes de conhecer a Lydia, por causa de intrigas políticas no grupo escoteiro onde eu era assistente de chefia. Tudo por culpa dessa gentinha que fica fazendo politicagem numa organização onde o pessoal que trabalha é voluntário.

Aqui nos EUA eu nunca cogitei trabalhar com escoteiros, inicialmente por causa do problema que é trabalhar com crianças aqui (todo mundo é louco para acusar os outros de molestar as crianças deles para tentar ganhar uma grana).

Depois eu definitivamente abandonei a idéia quando 3 anos atrás o movimento escoteiro daqui entrou na justiça para defender o direito deles de excluir homossexuais da organização. Eles ganharam a causa, sendo considerados uma organização privada com direito a estabelecer critérios para a seleção dos membros.

Na semana passada, entretanto, um juiz da Califórnia decretou que os escoteiros são uma organização religiosa.

Essa decisão foi um efeito colateral de um processo movido contra os escoteiros pela ACLU (uma associação de proteção às liberdades civis) contra um contrato de aluguel que os escoteiros tem com a cidade de San Diego deste 1945, onde eles retém o uso de 18 acres de terreno público, pagando US$1 por ano.

A ação acusa a prefeitura da cidade de favorecimento, por permitir que uma organização religiosa use um terreno público como sede, gratuitamente.

A união dos escoteiros daqui dos EUA é uma organização ostensivamente anti-gay, anti-agnosticismo e anti-ateísmo, e após problemas com dois meninos, um o filho de um casal de lésbicas e o outro filho de agnósticos, os dois casais pediram à UCLA que intercedesse.

Eu apóio completamente a decisão do juiz de suspender o uso do terreno. Quando eu fui escoteiro eu não podia falar que não tinha religião, senão teria que sair do grupo. O argumento era que eu teria que jurar em nome de deus ao fazer a minha promessa de escoteiro, e se não acreditasse, minha promessa não era válida. O fato de eu também dar a minha palavra de honra obviamente não contava em nada.

Naquela época eu não era tão ativista como agora, então engolia o sapo e tudo bem. Mas hoje eu acho um completo absurdo, e eu jamais me associaria a uma organização como essa.

Que eles tenham o direito de excluir pessoas baseando-se em preferências pessoais, até aí tudo bem, problema deles. Mas como diz o processo, então eles que não venham pedir tratamento preferencial no uso de propriedade pública se não permitem que todo mundo a use.

Outras organizações como o YMCA tiveram que abandonar suas políticas de exclusão para manterem esses privilégios. Está na hora dos escoteiros decidirem se juntar aos nossos tempos e deixar essas políticas retrógradas para trás. Infelizmente, a decisão ainda vai ser apelada então pode ser revertida. Eu torço para que não seja.