Comecei escrevendo isto como resposta ao comentário da Carla neste post, mas a coisa cresceu tanto que resolvi colocar como um post separado mesmo. Está extenso, então não sei se todo mundo vai querer ler.

Eu comento certas coisas aqui no blog para criar algum debate. Não que eu fique inventando minhas opiniões, o que escrevo é o que eu acho mesmo. Mas se eu ficar evitando escrever coisas e as minhas opiniões sobre elas porque são controversiais, vou ter o que? Um blog chato, politicamente correto, coisa que abomino.

É importante que vocês entendam que eu não estou atacando nenhum de vocês diretamente ou indiretamente, não é essa a minha intenção. Sei que tenho diferenças irreconciliáveis de opinião em certos assuntos com muitos de vocês, e isso é normal e por mim tudo bem, não é por isso que não vamos mais ser amigos. Não quero forçar minhas opiniões em ninguém, mas este blog é uma janela para a minha cabeça.

Tenho opiniões fortes em certos assuntos, opiniões que eu construí por muita reflexão, não simplesmente adotei porque me foram ensinadas. Passei muito tempo da minha vida “passando a limpo” meus conceitos, e ainda faço isso constantemente. Se acho alguma coisa que não é consistente ou que não tem uma boa base prática e “moral”, eu descarto ou conserto. Sempre acho que posso estar errado, e se alguém me dá motivos bons, concisos e efetivos, não me incomodo em alterar minhas idéias. Juro!

Agora ao post. Aviso: conteúdo muito abaixo…


Carla, eu tenho sim o direito de expressar a minha opinião sobre eles, seja ela à favor ou contra, uma vez que eles vieram à público e fizeram o maior auê sobre isso. Caiu na boca do povo, critica ou elogia quem quer.

Inclusive a família vendeu o direito exclusivo da história para um jornal, ou seja, eles sabiam e não se opunham a torná-la pública. Nove meses de gravidez e 4 dias de sofrimento para as meninas botaram um dinheirinho no bolso deles.

Eu já pensei bastante sobre esse lance de respeitar ao opiniões dos outros, e cada vez menos acho isso uma coisa válida por si própria. Quero dizer, respeitar simplesmente porque é a opinião do outro não tem nada a ver não.

Pense: um homem-bomba acha que é justificável entrar numa loja e explodir todo mundo que está lá dentro para protestar contra o governo. Deve-se respeitar a opinião dele que todo mundo que está lá tem mais é que ser explodido mesmo para o bem do protesto dele?

Outro caso: meses atrás (talvez um ano), uma escola para moças pegou fogo num país do Oriente Médio, não me lembro qual. As moças tentaram sair do prédio em chamas, mas foram impedidas pelo povo que estava lá fora, que barrou as portas para que elas não saíssem. O resultado é que morreu um monte delas, que teriam escapado tranquilamente. A razão? Elas não estavam de véu, porque estavam dormindo, em aula ou sei lá o que, e mulher sem véu não pode sair na rua. Não é minha opinião, mas devo respeitar porque afinal é a opinião deles? Ceeeerto.

O que eu quero dizer é que a sua opinião está certa ou não dependendo do que você faz com ela. Se eu sei que vou ter um filho que vai ser deficiente físico e vai se foder de verde e amarelo a vida inteira, qual é o direito que eu tenho de condená-lo a isso?

Que direito eu tenho de, sabendo que meu filho tem 75% de chance de herdar essa doença degenerativa que eu tenho (como num caso que li), de mesmo conceber essa criança, se eu sei que ela vai comer o pão que o diabo amassou a vida toda?

Se eu sou um cientista louco nazista, pego um nenê e injeto uma doença fodida nele que ele vai pegar e vai sentir dor a cada minuto do dia dele durante a vida inteira, eu sou um monstro, não? Mas e os pais que tem doenças hereditárias assim, sabem que os filhos vão ter, e mesmo assim os fazem? Não é diferente, mas ninguém os chama de sádicos, sentem é pena deles porque o nenê saiu doente. Não é um caso de dois pesos e duas medidas? Cadê a coerência?

Eu não sou insensível não, muito pelo contrário. Sofro muito ao ver as merdas que todo mundo faz por aí, e quem paga o pato são quem não tem nada à ver com isso, não teve voto, não teve recurso. São as crianças que nascem para uma vida de sofrimento e discriminação por defeitos físicos ou mentais conhecidos já no início da gravidez, são crianças abandonadas porque tem filha da puta por aí gastando dezenas de milhares de dólares em tratamento de fertilidade ao invés de adotar alguém que está na rua, são os doentes que não tem remédios ou condições de arcar com os custos de um seguro de saúde porque alguém acha que é muito especial e que vai gastar os tufos do dinheiro do convênio para levar a termo uma gravidez que está destinada ao fracasso logo de começo.

E depois EU sou o insensível?

Claro que volta e meia uma dessas crianças sobrevive, cresce e até consegue superar suas limitações e vira um filme muito bonito estrelado pelo Tom Hanks. Mas quantos não conseguem isso? Quantos não acabam abandonados na rua, em asilos, vivem vida pior que animais? É justo apostar com a vida dessas pessoas?

Saber que você vai condenar uma criança a uma vida de sofrimento, seja de 4 dias ou 70 anos, e mesmo assim permitir que ela sofra esse destino desgraçado por não querer abortá-la enquanto é apenas um feto de 3 meses de idade é crueldade e egoísmo sim.

Não adianta botar a responsabilidade no papai do céu não, a decisão é sua e a responsabilidade por tudo o que acontece é sua também. As pessoas tinham que começar a encarar isso ao invés de se refugiarem em princípios imbecis, sádicos e imorais disfarçados como religião.