Lendo as respostas ao meu post anterior, vi que falhei no meu intento… o número de comentários (longos) já está muito grande então resolvi responder em um post separado.

Aparentemente muita gente pensou que eu saí em uma cruzada para mudar o mundo, implantar o vegetarianismo forçado e com isso matar os pobres do mundo de fome e estabelecer uma sociedade onde os animais são tão ou mais importantes do que as pessoas. No processo, fui até acusado de ser um assassino de vegetais e comparado a terroristas vegetarianos… né Spacey? ;-P

Descobri também, em uma constatação que pessoalmente me desapontou, que vários dos meus amigos acham permissível impingir sofrimento e agonia à vontade em qualquer outro ser vivo, desde que seja para poupar qualquer ser humano. Argumentos usados para justificar esse “direito” variam entre “estarmos no topo da cadeia alimentar” ou “preservação da nossa espécie” (como se uma população de 6.5 bilhões estivesse em qualquer perigo de extinção). 😐

De qualquer forma, minha idéia era colher opiniões sobre o que uma pessoa deve fazer quando encontra um problema ético desses. O assunto extrapolou completamente o tópico, apesar de eu ter recebido algumas respostas relevantes (acho que todas elas “positivas”).

Gente, eu não sou mané (acho). Eu sei que o mundo não vai mudar de um dia para o outro. As soluções para o problema da fome mundial estão além do escopo deste blog, embora eu pessoalmente ache que elas existam — mas não são implementadas pela nossa própria resistência e mentalidade tacanha. E mesmo se fossem, qualquer mudança nessa escala é gradual.

É importante que vocês entendam que eu não sou contra usar outros seres vivos como fontes de alimentação (eu teria que estar completamente fora da realidade para achar isso). Sou contra a absoluta falta de compaixão com que esses animais são tratados, em nome de custos mais baratos. Isso é uma atitude desumana. Eu entendo que encarecer os custos faria gente comer menos (apesar de que milhares já morrem de fome hoje em dia de qualquer maneira, com ou sem custos baixos), mas eu ainda acho que uma mudança é necessária, ainda que gradual.

Eu acredito que o ser humano hoje em dia tem a capacidade de extrapolar as fontes de nutrição das quais ele depende para não precisar manter extensas populações animais cativas em condições “sub-animalescas”, além de produzir muito mais alimento para todos.

A agricultura tem condições de produzir alimentos suficientes para todo mundo de maneira muito mais eficiente que a criação de animais, que afinal depende da sua própria agricultura para ser alimentada… vocês não acham que eles comem só capim, acham? Some-se a redução da dependência de fontes animais como comida, liberando vastas áreas hoje dedicadas às pastagens e produção de alimento para rebanhos, às culturas transgências altamente produtivas que estão sendo criadas e tem-se comida para caramba.

Esses dois fatores combinados (a capacidade de perceber os efeitos das suas ações e a capacidade tecnológica para mudá-las) se transformam em responsabilidade. Quando você faz algo de errado, sabe que está fazendo e tem condições de mudar para deixar de fazer aquilo, é sua obrigação como ser humano fazê-lo.

Mas, qualquer que seja a minha posição com relação ao que acontece mundialmente, eu estava perguntando sobre a minha posição pessoal. E conversando com a Lydia, acho que chegamos a uma conclusão razoável:

1) Vamos parar de comer qualquer tipo de carne, incluindo aí os frutos do mar.

2) Vamos parar consumir leite, ovos e queijos que usem rennet em casa.

3) Vamos parar de comprar outros produtos de origem animal como cintos e sapatos de couro.

4) Em nome da sociabilidade, a gente afrouxará um pouco as regras alimentares quando for passear ou visitar amigos. Senão não daria nem para comer uma pizza.

É pouco, menos do que a gente gostaria, mas basicamente é o limite do praticável na nossa atual conjuntura. Se um dia formos morar numa fazenda, poderemos pensar em ter nossas galinhas, vaquinha, sei lá. Mas por enquanto é o que a gente pode fazer para conciliar nossa consciência e nossa vida na sociedade moderna.

Espero que eu tenha sido um pouco mais claro desta vez. :-)