Faz um tempinho eu fui introduzido ao conceito de “memes” por uma história em quadrinhos do Warren Ellis.

Memes, segundo a teoria, são uma espécie de “vírus mentais”. São idéias que se comportam como viroses, infectando hospedeiros, afetando seu comportamento, se multiplicando e se espalhando pela população. A validade das idéias transmitidas por uma meme não interessa, apenas a sua capacidade de reprodução e sobrevivência.

Uma boa meme tem mecanismos para se instalar num hospedeiro, convencê-lo a espalhá-la e prevenir outras memes similares de infectarem o hospedeiro (o que destruiria a meme anterior). Memes que não são suficientemente boas tendem a desaparecer rapidamente, vítimas de um processo semelhante ao da seleção natural.

Por que estou falando disto? Ontem fui a um batizado e, observando meus sobrinhos, tive a oportunidade de ficar analisando como essas idéias são implantadas na cabeça da gente desde pequeno. Caso vocês não tenham se tocado, religiões são ótimos exemplos dessas memes mais elaboradas.

É fácil de perceber porque, para a imensa maioria das pessoas, é tão difícil de se libertar dos grilhões de uma idéia que foi imposta a você deste a mais tenra idade. Você pode até trocar de uma religião para outra semelhante com uma certa facilidade, mas os conceitos básicos desse tipo de meme são muito eficientes, frutos de uma evolução longa e extremamente difíceis de serem desalojados do seu subconsciente.

A cerimônia consistia em uma série de compromissos que os pais e padrinhos assumiam, de criar as crianças segundo a fé católica. Isso é reforçado várias vezes para eles como um grupo e individualmente, sempre colocando a responsabilidade como essencial para a segurança da criança e a aceitação dela na comunidade.

Para a platéia, as frases-resposta serviam como uma participação na cerimônia. O mais assustador é ver as crianças, que normalmente não prestavam muita atenção a nada, rapidamente passarem a repetir as mesmas frases ao ver que o resto do pessoal o fazia.

Não admira que elas cresçam severamente limitadas em sua capacidade de entender o mundo à sua volta de uma maneira objetiva: a elas não é dada nenhuma chance de escolher, nenhuma chance de refletir sobre aquilo em que elas são coagidas a acreditar. É tudo martelado na cabeça delas, usando os mecanismos de procriação da meme: aceitação dos seus pares (que já carregam a meme com eles), recompensa pela aceitação da meme e punimento pelo simples questionamento da mesma.

Acho que lembrar dos meus sobrinhos repetindo as frases sem nem saber o que estavam falando me impressionou, e me fez ficar bastante triste ao perceber que, para eles, a escolha do que eles vão acreditar já foi tomada sem dar a eles nenhuma chance de decidir. Mas essa é exatamente a natureza das memes religiosas e uma das razões pelas quais elas sobrevivem por tanto tempo e se propagam tão facilmente.

Uma última coisa: o próprio conceito de “memes” é, por si próprio, uma meme (ou talvez uma meta-meme).

Vocês todos agora também estão infectados. :-)