Numa demonstração de que ignorância aparentemente é contagiosa, ou que “macaco vê, macaco faz”, o Rio de Janeiro vai aderir à mania americana e ensinar criacionismo nas escolas públicas. Ao que parece, os crentes do Brasil estão aprendendo com os daqui e estão influenciando os políticos para minar mais ainda o pouco que sobra do ensino científico no Brasil.

Eu não tenho nada contra as pessoas quererem acreditar que existe um criador por trás da origem da vida e etc, mas querer “oficializar” essas idéias ridículas tiradas da bíblia é exatamente o que sou contra. Os crentes brasileiros estão usando os mesmos argumentos furados que se usa aqui nos EUA para defender uma idéia sem fundamento nenhum (a não ser ter sido escrita num livro há muito tempo atrás) e tentar substituir uma pedra fundamental da biologia, já testada e comprovada inúmeras vezes, por uma historinha de conto de fadas.

Esse é uma postura estúpida. O que os crentes e outros fanáticos não conseguem entender é que você pode conciliar a crença em um ser superior com a realidade comprovada pela ciência.

Considerem o que Carl Sagan diz no seu livro “O Mundo Assombrado Pelos Demônios: A Ciência Vista Como Uma Vela No Escuro“. Ele menciona a seguinte conversa com o Dalai Lama, líder espiritual do Budismo Tibetano (tradução minha):

    Em discussões teológicas com líderes religiosos, eu frequentemente pergunto qual seria a resposta deles se um princípio central da sua fé fosse provado como falso pela ciência. Quando eu apresentei essa questão ao atual, décimo quarto, Dalai Lama, ele respondeu sem hesitar de uma maneira que nenhum líder religioso conservador ou fundamentalista faria: “Nesse caso”, ele disse, “o Budismo Tibetano teria que mudar”.

    “Mesmo se”, eu perguntei, “for um princípio realmente central, como (eu procurei por um exemplo) reencarnação”?

    “Mesmo assim”, ele respondeu.

    “Entretanto” — ele adicionou com uma piscadela de olho — “vai ser difícil provar que a reencarnação é falsa”.

    Claramente, o Dalai Lama está certo. Doutrinas religiosas que estão isoladas de contradição tem poucos motivos para se preocupar com o avanço da ciência. A idéia maior, comum a muitas crenças, de um Criador do Universo é uma dessas doutrinas — simultaneamente difícil de demonstrar e contradizer.

Tudo o que os fanáticos religiosos conseguem através desse ataque sistemático à ciência e ao pensamento científico (do qual a discussão sobre Evolução é só a ponta do iceberg) é erodir os pilares que suportam a nossa civilização e o nosso progresso, além de assumirem uma posição hipócrita: eles usam e abusam diariamente dos benefícios que a ciência trouxe para eles até agora, não? Mas não se preocupam sobre o que vai acontecer se eles conseguirem o que querem e a ciência seja substituída por crenças. Alguém aí já ouviu falar sobre um período na Europa chamado “Idade Média”? Pois é, aparentemente não aprendemos mesmo com os nossos erros.

Bônus extra: o Carlos Orsi, amigo meu que escreve para o Estadão, escreveu este artigo legal sobre algo mais que podemos aprender de útil na Bíblia (obrigado pelo toque, Rods).