Este post não é para comentar que eu acho essa guerra completamente imoral, injustificada, indesejada e outras tantas palavras começando com “i”, mas sim para passar à vocês algumas impressões sobre o que é viver num país em guerra.

Ou melhor, para contar como é viver num país em guerra e não fazer a menor noção do que é isso. Parece até uma piada, pois já é a segunda guerra desde que vim para os EUA. Não que eu quisesse aprender, claro.

É muito estranho, se você parar para pensar nisso. Não é como se fosse uma guerra com um país vizinho e houvesse a ameaça de invasão por tropas ou de bombardeio. A luta está acontecendo quase do outro lado do mundo, contra um país que não tem a menor chance de revidar. No máximo, vão conseguir explodir alguns prédios por aqui com atentados, mas não é nada comparado ao estragos que as tropas americanas estão causando por lá.

Aqui estou eu, trabalhando normalmente… não tem sirenes tocando para avisar sobre ataques aéreos, não se houvem explosões à distância, não temos que correr para nos esconder em abrigos contra bombas.

Estamos no meio de uma mudança de endereço aqui no escritório. Eu e a Lydia já temos planos para passeios no final de semana. A programação das TVs e rádios, tirando os canais dedicados a notícias, não foi alterada. O comércio está aberto. Em nenhum momento a guerra parece afetar alguma coisa da vida cotidiana aqui.

Talvez seja essa uma das razões da facilidade com que o Jorge Moita consegue convencer o povo daqui. Ninguém vê o sofrimento, medo e a destruição que uma invasão ao seu país provoca na população. Mesmo vendo na TV, a impressão é mais de se estar assistindo a um filme do que presenciando fatos reais, de tão distantes da gente que eles estão.

Ontem à noite na CNN eles só mostravam imagens diretas da marcha do Sétimo Regimento de Cavalaria, um platoon inteiro de tanques, sobre o deserto em direção a Bagdá, enquanto os comentaristas elogiavam os soldados, o armamento, as mulheres que pilotam os helicópteros batedores, a organização das tropas, etc.

Talvez os únicos que se afetem mais sejam as famílias dos soldados que estão lá no Iraque agora, por se preocuparem com a segurança deles.

Não sei exatamente o que eu queria dizer com tudo isso. Eu não estava muito a fim de discutir sobre a guerra, pois o governo americano não parece inclinado a dar nenhuma atenção ao clamor local ou mundial, então tirando uma improvável revolta popular generalizada, a guerra vai continuar, e correr o rumo que o Moita e seus asseclas quiserem. Mas ao mesmo tempo, não podia ficar sem comentar alguma coisa… sinto um vazio dentro do meu peito toda vez que eu penso nisso, uma revolta contra a brutalidade dos governos e a estupidez generalizada da raça humana, que dá um passo para a frente e dois para trás quando se trata de perceber que está todo mundo no mesmo barco.