Faz tempo que eu estava querendo escrever uma pequena série de posts sobre ferrageamento de cavalos. Se interessa à alguém mais além de mim, não sei, mas como o blog é meu eu vou escrever assim mesmo… 😉

Vamos começar pelo básico: um pouquinho de anatomia e o porquê das ferraduras.

A estrutura óssea das patas do cavalo é bastante similar à humana, com inclusive a maior parte dos ossos tendo o mesmo nome. As grandes diferenças são a presença de um único dedo e o comprimento relativo dos ossos. No cavalo, o que chamamos de joelho é na verdade o pulso. O equivalente ao nosso joelho e o ombro se encontram na parte que chamaríamos de ombro. As imagens abaixo mostram uma pata dianteira e uma comparação entre os ossos da pata traseira e da perna humana (cliquem para ampliar).

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Uma coisa bastante interessante é que, do joelho para baixo, não existem músculos, apenas tendões. A parte inferior das pernas é, quase literalmente, só pele e osso. :-)

Como mencionei antes, o cavalo possui apenas um dedo em cada pata. A unha desse dedo é especialmente adaptada para formar o casco, que suporta todo o peso do animal. O casco, que envolve mais ou menos uns 4/5 da pata, tem um formato mais ou menos de um tronco de cone e é ligado ao osso final da “falangeta”. O peso todo do cavalo repousa basicamente “pendurado” pelo lado de dentro dos cascos.

Além disso, os cascos dianteiros e traseiros tem formatos diferentes. Os dianteiros são redondos, enquanto os traseiros tem um formato mais embicado, com os lados mais retos.

Abaixo estão imagens de uma pata mostrando as estruturas externas da pata e duas ferraduras mostrando a diferença no formato das patas (traseira e dianteira, respectivamente).

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Boa parte do processo de se tornar um ferrador envolve aprender a entender o funcionamento das patas do cavalo, como a conformação delas afeta o animal e como ferrar corretamente para não afetar negativamente a movimentação e o conforto do cavalo.

Agora… por que colocamos ferraduras nos cavalos?

A resposta curta é que os cavalos não foram feitos para o tipo de trabalho que fazem para a gente e para viver em ambientes domesticados. A resposta comprida segue abaixo.

As funções básicas das ferraduras são (1) proteger o casco contra desgaste e choque excessivos e (2) corrigir problemas no movimento, que podem ser causados por inúmeros fatores.

Eles evoluiram como corredores, mas apesar de fortes, não foram feitos para carregar gente nas costas ou puxar carroça. À isso juntam-se as condições em que os cavalos domésticos vivem, que não são como as condições naturais às quais eles se adaptaram, e à seleção artificial que foi imposta à eles nos últimos milenios. Tudo isso afeta o crescimento e desgaste dos cascos de várias maneiras diferentes, e pode levar ao surgimento de problemas.

Na natureza, os cavalos vagam por grandes extensões de terrenos variados, e eles mesmo controlam o desgaste dos cascos. Os cavalos domésticos normalmente vivem em pastagens pequenas, onde movimentação e variação de terrenos são muito menores. Se o cavalo trabalha (é montado ou puxa carroça, por exemplo), isso também contribui para um desgaste maior do casco. E a seleção artificial contribuiu para manter linhas genéticas de cascos frágeis ou mal formados, que na natureza teriam sido extintas por seleção natural.

Mas nem todo cavalo precisa de ferraduras. Muitos andam “barefoot” sem problemas e é sempre preferível deixar o cavalo sem ferraduras quando possível. Mas isso depende dos fatores que mencionei acima: genética, ambiente e carga de trabalho.

E por hoje é só… aguardem os próximos capítulos.