A ignorância por trás de um sorriso
Richard Dawkins se encontrou recentemente com uma tiazinha chamada Wendy Wright, de uma associação chamada “Concerned Women for America” (não vou nem colocar link para não prestigiar) que propõe, entre outras coisas, o ensino do Criacionismo nas escolas.
A entrevista de pouco mais de uma hora de duração é uma tortura para se assistir. O nível de ignorância mostrado pela tiazinha, combinado com uma máscara rígida em forma de sorriso condescendente que ela não tira da cara, causam agonia e um desejo quase incontrolável de socar em qualquer espectador com um mínimo de racionalidade. Não sei como Dawkins aguentou, eu sinceramente não conseguiria.
A tiazinha se repete constantemente, insistindo numa conspiração mundial e dizendo que não existe evidência que sustenta a Teoria da Evolução, completamente ignorando o que Dawkins fala quando ele explica que existe e onde ela pode encontrá-la. Ela também demonstra ignorância total sobre como ciência funciona e o que é “evidência”. Ao mesmo tempo inventa “fatos” e, à despeito de não ter formação científica nenhuma e obviamente nenhuma instrução séria sobre o assunto, insiste em explicar o funcionamento da ciência, da comunidade científica e do DNA para um dos maiores geneticistas da atualidade.
Por exemplo, no começo da parte 2 da entrevista, ela diz “me mostre os ossos, me mostre a carcaça, me mostre a evidência de um estado intermediário entre uma espécie e outra”. Dawkins explica que cada fóssil basicamente é um estado intermediário entre duas espécies, ao que ela retruca que então os museus deveriam estar cheios desses fósseis e dá risada quando Dawkins fala que sim, eles realmente estão. Qualquer um que já foi a um museu já viu esses fósseis, mas aparentemente na realidade que essa mulher vive, eles não estão lá. Imagino se quando ela vai ao museu, se é que vai, ela olha em volta e só vê paredes e mostruários vazios.
É o típico comportamento criacionista/fundamentalista. Essa mulher tem uma parede intransponível na frente dela, que rebate qualquer explicação que não concorda com o que ela quer, por mais óbvia que seja. Quando confrontada com as falhas, erros e inconsistências dos argumentos dela, ela simplesmente não escuta o que você diz e muda de assunto ou repete o que falou antes, como se você não tivesse falado nada.
A entrevista completa, em inglês, está dividida em uma série de vídeos de aproximadamente 10 minutos cada. Eu assisti às três primeiras partes, foi o máximo que aguentei. Se alguém conseguir assistir tudo, me avise.
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Sorry Mauro. Eu não consegui passar da 3ª parte também. Fiquei com uma vontade incomensurável de chutar a cara da tiazinha de sorriso travado.
Não consigo acreditar que exista gente tão obtusa. Por estas e outras, virei pastafarianista.
“Miss Wright was named among ‘The 100 Most Powerful Women of Washington’ in 2006 by the Washingtonian Magazine.”
Eu tenho medo.
É o autêntico encontro entre ciência e pseudo-ciência. Se pelo menos ela desse apenas uma evidência de que o mundo e seus seres foi criado por Deus, já que exige tantas… created by the loving touch of a creator, que raio de evidência é essa? Que cretina. Que morra by the loving touch.
Eu nao vou nem assistir porque so vou ficar com raiva da mulher. Pode ter certeza que ela nunca pisou num museu, pelo menos nao em um museu de historia natural.
LOL Preciso falar: na parte 5 ela diz que o comunismo baseou-se no ateísmo e no evolucionismo e que isso resultou numa década com more killings combined than every century prior to that.Só rindo.
A Robes merece uma medalha, já está ouvindo a parte 6 da entrevista, ô cabra macha!
Mauro, eu sou bundão mesmo, não tive coragem de abrir o link. Uma cosa que me assusta de verdade é imaginar se este tipo de mentalidade existe aos montes aí no país-sem-nome.
Outra coisa que me assombra é que alguns outros amigos meus que moram aí começaram a ficar com esta mentalidade… Isso pega?
Te cuida aí brother!
Uma das coisas que os evolucionistas gostam de proclamar confidentemente é que “nenhum cientista credível aceita a doutrina da criação!“. Mesmo que isso fosse verdade (não é), isso não é prova, nem evidência, que a Criação não aconteceu.
A maioria dos ramos da ciência moderna foram fundados por cientistas que acreditavam na criação. A lista de cientistas criacionistas é impressionante:
Física
* Newton
* Faraday
* Maxwell
* Kelvin
Química
* Boyle
* Dalton
* Ramsay
Biologia
* Ray
* Linnaeus
* Mendel
* Pasteur
* Virchow
* Agassiz
Geologia
* Steno
* Woodward
* Brewster
* Buckland
* Cuvier
Astronomia
* Copernicus
* Galileo
* Kepler
* Herschel
* Maunder
Matemática
* Pascal
* Leibnitz
Será que isto prova que a criação é verdadeira? Não necessariamente. Tudo o que isto faz é servir de evidência que a ciência e o Criacionismo Bíblico (criação em 6 dias e dilúvio universal) não estão em oposição.
Os criacionistas entendem pela fé que o Universo foi formado pela palavra de Deus, de modo que aquilo que se vê não foi feito do que é visível (Hebreus 11:30). Entenda-se que fé é a certeza daquilo que esperamos e a prova das coisas que não vemos.
Valéria
Sei lá,
Convivi por muito tempo com grupos religiosos diferentes: evangélicos, católicos, espíritas, maçônicos(um só) e umbandistas; todos dentro da família, amigos ou apenas conhecidos. Também convivi bastante tempo com pessoas fortemente ligadas ao meio científico, inclusive um doutor em física (Horácio Dottori – http://www.if.ufrgs.br/~dottori/) que, uma vez, numa aula de Introdução à Astronomia, respondendo sobre o possível tamanho do universo e de como os físicos atuais começam a se posicionar a respeito disto… nas palavras dele: “ A complexidade de novas descobertas a respeito do que se acredita ser o limite do universo extrapola qualquer possibilidade de seu entendimento através de cálculos matemáticos conhecidos. Alguns físicos cosmólogos começam a considerar a possibilidade de existir algo além da capacidade de compreensão humana… e alguns entendem isto como sendo Deus.”… quem quiser que entre em contato com ele pra confirmar e depois me cobra.
O que eu penso de tudo isto é que nem religião nem ciência podem explicar Deus ou a existência dele. Sei que é difícil conviver com a satisfação de pessoas ignorantes como esta senhora (só me dá pena) que ficam se rindo por acharem que só elas sabem a verdade. Mas eu acho que os Ateus não deveriam se importar com isso, afinal, a vida é curta, não é?
Não sou Ateu e nem mesmo religioso. Acho que isto seria ser Agnóstico… mas isto também não define nada.
O link do Prof. Dottori não tem “)” no final.
http://www.if.ufrgs.br/~dottori/
Em relação ao criacionismo (esse é o assunto), a ciência reconhece que existem muitas lacunas para uma definição mais concreta em relação ao evolucionismo e a cada momento surgem fósseis que desmontam algumas teorias tidas como válidas. Enquanto isso, as religiões baseadas na Bíblia disfarçam o que está escrito lá pois se a gente ler esse “conjunto de livros” com atenção vai entender que ninguém poderia ser capaz de provar nada apenas com o que está escrito ali e que nem mesmo foi esse o objetivo das obras contidas nele (apesar de elas terem sido organizadas pelas raízes do catolicismo). No Novo Testamento se fala ainda em um “Sistema de Coisas” impossível de ser decifrado ou entendido, já seria difícil ao homem entender o seu próprio “Sistema”… pura Matrix.
Acho que se basear integralmente em opiniões ou interpretações da Bíblia para explicar o surgimento do Ser Humano contradiz muito do que está escrito lá. Por outro lado, é muito cedo para nos satisfazermos com o que a ciência tem a mostrar a respeito disto… ou muito menos apelarmos para o ocultismo.
Tenho muitas limitações argumentativas e espero não ter chateado ninguém. É que apareceu a oportunidade e…agora vou me recolhendo.
Acho no mínimo sintomático que todos os cientistas citados são no máximo contemporâneos de Darwin. A sua lista conta com nomes do século XVI, XVII e XVII, quando o poder da igreja era muito mais abrangente e a força da tradição regulava, com mão de ferro, a vida cotidiana como um tudo.
Embora seja uma suposição, acredito que a maioria dos cientistas na sua lista acreditavam ainda no papel subalterno da mulher ou até mesmo na legitimidade da escravidão entre outra crenças consideradas arcaicas nos tempos atuais.
Um exemplo é o fato de Virchow negar veementemente que as bactérias causavam doenças. Nada disso, no entanto, invalida as suas descobertas em outros campos.
Enfim, o contexto histórico há de ser levado em consideração.
Lembrando ainda que a obra de Darwin, embora publicada em 1859, só começa a ser aceita de fato no período que compreende os anos 30 e 50 do século XX. Uma explicação para tal reside no fato que no século XIX e início do século XX tanto informação quanto conhecimento estavam restritos a poucos círculos e não circulavam livremente.
Valéria, é preciso que se leve em conta um fator muito importante, que vc esqueceu: o histórico. O pensamento que desvincula religião e ciência é muito recente, de poucos séculos atrás, e vem sendo desenvolvido gradualmente. Portanto, é natural que muitos cientistas acreditassem na criação, porque pensar em negá-la ou discuti-la sequer era cabível, mesmo nas mentes mais investigativas – historicamente, era impossível. Haja visto o Galileu que, por defender o pensamento científico e o método empírico, quase foi pra fogueira. E ele estava dentro do seu tempo – eu nunca li nada sobre ele discutir ou negar a existência divina, mesmo com toda a sua atividade como pesquisador. Mas a religião era da mesma forma como é hoje, uma forma de pensar tomada como verdade absoluta, só que naquele tempo com mais poder de persuasão, vamos dizer assim.
São poucos os que vc cita na sua lista que atravessam o período entre os séculos XIX e XX, onde a força do pensamento científico aumentou. As religiões, por si só, são muito influentes, mesmo sendo conflitantes com as ciências – porque ciência e religião são, sim, conflitantes e absolutamente opostas, tanto é que a tendência é que se se distanciem cada vez mais. Atualmente não só cientistas respeitados, mas também outros pensadores de igual valor para as ciências de conhecimento, desconsideram religião em suas teorias e isso, além de também ser um reflexo histórico, mostra como o processo científico precisa de base, se não (ainda) comprovada, plausível e possível de ser desenvolvida. Um cientista não pode ter “fé” no seu repertório de ferramentas de trabalho. E é por isso que eu acho que, realmente, não pode haver doutrina de criação num estudo científico sério.
Robes
Esse texto abaixo da revista Galileu contraria sua tese de que só cientistas do passado eram criacionistas. Mas essa é uma discussão que já sabemos de antemão que não vai chegar a lugar nenhum, ou seja, nem vc nem eu mudaremos de opinião.Não deixa de ser uma questão de “fé”…
“Quando surgiu a Terra? Há 10 mil anos, no máximo. Quanto tempo durou o período geológico do Jurássico? Menos de três meses. Como funciona a seleção natural? Impede o desenvolvimento de novas espécies. Como explicar a sofisticada bioquímica da vida? Ela foi formada segundo o planejamento de uma inteligência superior. Surpreso com as frases acima (que contrariam algumas das idéias mais aceitas pela maioria dos estudiosos), o leitor de GALILEU pode estar se questionando se comprou a revista certa. E talvez fique ainda mais surpreso em saber que tais idéias são defendidas hoje no Brasil por um grupo de pessoas a quem não se pode acusar de falta de credenciais científicas. Muitos têm pós-graduação feita em prestigiados centros de pesquisa do nosso país e do exterior (como o Instituto Max Planck de Colóides de Potsdam, na Alemanha, ou a Universidade de Londres), artigos publicados em revistas científicas internacionais e atuação em universidades como a USP e a Federal de Viçosa.
Nos EUA, o esforço de cientistas para tentar mostrar que o Gênesis pode ser mais do que uma narrativa mitológica ganhou o nome de criacionismo científico ou ciência da criação. A corrente surgiu nos anos 1950, quando um engenheiro hidráulico de nome Henry Morris começou a procurar evidências da ocorrência de um suposto dilúvio. A pesquisa ge-
rou o livro “The Genesis Flood” (O Dilúvio do Gênesis), lançado em 1961, que causou grande impacto na comunidade evangélica e abriu caminho para a fundação da primeira sociedade, a Creation Research Society, em 1963. O intercâmbio de brasileiros com essas institui-ções deu origem à Sociedade Criacionista Brasileira (SCB), em 1972, e à Associação Brasileira de Pesquisas da Criação (ABPC), em 1979. São elas que centralizam o debate em torno do criacionismo científico no país, realizando eventos e conferências. Em abril passado, por exemplo, a ABPC trouxe ao Brasil um dos mais famosos cientistas criacionistas do mundo, o bioquímico americano Duane Gish, vice-presidente do Institute for Creation Research (ICR). Gish (que esteve no país outras quatro vezes e se apresentou até na USP e na Unicamp) fez uma maratona de conferências por cinco Estados brasileiros, proferindo às vezes mais de uma palestra por dia.
Em suas falas, Gish se propõe a refutar as teorias da Evolução e do Big Bang “unicamente com base na evidência científica”. Seus argumentos, em boa parte, são tirados de temas polêmicos dentro da comunidade científica. Um deles é a matéria escura. “Para que o Universo se adapte ao modelo do Big Bang, os cientistas tiveram que postular a existência de uma gigantesca quantidade de energia e de matéria que, no entanto, nunca detectaram. E essa matéria (por isso chamada de escura) corresponderia a mais de 80% da matéria do Universo! Como é possível que se inventem evidências para sustentar uma teoria e alguém diga que isso é científico?”, questiona.
Ele recorre também à Segunda Lei da Termodinâmica, que diz que, ao longo do tempo, a entropia de um sistema fechado tende a aumentar. “Isso significa que a de-sorganização tende a crescer ao longo do tempo, o que é o oposto do que dizem o Big Bang e a Teoria da Evolução.”
Valéria, eu disse que “Atualmente não só cientistas respeitados, mas também outros pensadores…”, não disse que eram todos. Mas acho mesmo que me expressei mal. Seria absurdo eu contrariar a máxima de que “nem todo cientista é ateu e nem todo ateu é cientista”. O que eu quis dizer foi que acho sim que ciência e religião são opostas e que o caminho de ambas tende, por essa oposição, a se separar com o passar do (longo) tempo.
Sem querer desmerecer, porque eu acredito mesmo que a inteligência e a capacidade investigativa podem estar em qualquer pessoa, mas um engenheiro hidráulico estar cientificamente preparado pra procurar sinais do dilúvio? Nos anos 50? É praticamente uma piada com o método de pesquisa. Por mais inteligente que ele fosse, são necessários anos de preparo de biólogos, agrônomos, químicos, físicos, entre outros, para procurar sinais que pudessem ser corretamente identificados e interpretados. É necessário um trabalho de equipe. Naturalmente a comunidade evangélica se agitaria, quanto mais chances de reforçar suas crenças, melhor. Até aqui não há nada de científico, no máximo uma pesquisa bem-intencionada mas até mesmo influenciada pela vontade cristã de encontrar um dilúvio.
Além disso, mesmo que o dilúvio tivesse ocorrido, o que prova em relação a religião? Cometas, maremotos, terremotos, furacões etc, tudo isso existe e sempre existiu. Ele vai provar que Deus existe encontrando vestígios de um dilúvio, só porque textos antigos dizem que ocorreu? As cheias do Nilo foram descritas pelos gregos e pelos egípcios, e elas eram belas cheias, inundações mesmo, o que isso prova em termos religiosos? NADA. Prova que acontecem eventos naturais, apenas, e que povos antigos escreveram sobre isso.
Entrei no site desse palestrante, Gish, pra conhecer. Li o primeiro artigo, sobre divisão de células, que afirma que foi descoberto que “not only are proteins and phosphates involved in the cell division’s internal communication, but so are certain sugars”. APARENTEMENTE é um artigo sobre ciência. Mas no fim, afirmando que “quando os cientistas e educadores acham que aprenderam tudo sobre o funcionamento da célula, descobre-se uma nova dimensão que precisa ser levada em conta” (tradução livre), conclui que “only a supernatural Builder could be responsible for their existence”. É como se dissesse aos cientistas e educadores: “tolinhos”. E tudo isso sob a falsa capa de artigo científico. Escrito com cuidado, nem parece que os dois últimos parágrafos mudam totalmente o foco do assunto.
Não é porque algo não pôde ser cientificamente comprovado num determinado momento, ou porque não tenha sido descoberto até então, que não exista uma explicação. As descobertas aparecem de acordo com a época, as condições tecnológicas e também pela cadeia de ideias que vão sendo complementadas a cada geração, pois o método científico é extremamente complexo e, sem exagero, muitas descobertas importantes não poderiam ter acontecido no transcorrer de uma vida apenas. Quando alguém me diz “tá vendo, ninguém explicou tal coisa ainda, só pode ser Deus”, eu acho, sinceramente, uma afirmação de uma preguiça mental absurda.
O que eu acredito que vem acontecendo é que a religião vem se aproveitando do trabalho dos cientistas pra se imiscuir e gerar simpatias, porque o avanço do pensamento crítico tem tirado espaço das religiões (por sua oposição natural). Quer coisa melhor pra uma religião ganhar espaço do que fazer parecer que tudo é parte de uma mesma coisa? Acho até mais do que isso, acho um golpe baixo das religiões tirarem proveito de descobertas científicas, das quais não fazem parte – ao contrário, muitas vezes até tentam reprimir (mas tiram proveito dos benefícios, como da penicilina e da medicina moderna, por exemplo) – tentando fazer parecer um “trabalho em conjunto”, como se estivessem realmente interessadas em pesquisa, quando o que querem é reforçar suas bases em teorias sem fundamento científico nenhum; querem só angariar credibilidade.
Robes, como disse antes acho que esse assunto provavelmente não vai chegar a lugar nenhum. Sinceramente não tive a pretensão de provar nada, somente esclarecer que a motivação dos que como eu acreditam na criação é a fé, e isso envolve experiências pessoais e íntimas com Deus que vão além do que qq evidência científica possa provar. Certa de sua compreensão espero ter encerrado o assunto.
Um gde abraço
Acabei de chegar em casa e não tenho tempo de ficar comentando em detalhes, mas o Felippe e a Robes já cobriram parte do que eu iria dizer, vou cuidar de outros detalhes.
O Robson comentou sobre a atitude “superior” de pessoas como a tiazinha da entrevista:
À princípio eu concordo, o problema é que você precisa colocar a coisa no contexto correto: aqui nos EUA esses evangélicos estão fazendo de tudo para derrubar o conceito de Estado Laico e instituir um Estado Evangélico, onde leis são baseadas na (interpretação deles da) Bíblia. É por isso que eu e uma grande parte da comunidade ateísta (se é que existe isso) está abandonando o “deixa prá lá” e começando a reclamar e descer a boca. Você sabe o que acontece quando você abandona o Estado Laico? Você cria países como o Vaticano, Irã ou Afeganistão. Você gostaria de morar num país assim? Pois é, eu também não.
Ainda o Robson:
E essa é exatamente a força da ciência: ela se corrige. Quando se descobre uma explicação melhor para uma coisa, para-se de usar a explicação pior e se começa a usar a melhor. Não existe nada de errado nisso, é isso que permite o progresso. Senão, ainda estaríamos usando sanguessugas e tomando mercúrio para curar doenças, certo?
Outra coisa: novas descobertas não necessariamente “desmontam” teorias anteriores. Uma teoria chega a esse ponto (de ser chamada teoria) porque funciona para a grande maioria dos casos e explica o que pretende explicar. Só porque aparece uma melhor, não quer dizer que a anterior seja inválida, simplesmente a nova é mais abrangente e/ou detalhada.
Quer um exemplo? Física Newtoniana (FN). Quando Einstein criou a Relatividade, nós paramos de usar FN? Não, tanto que você inclusive ainda a aprende na escola. O que acontece é que FN explica perfeitamente bem o funcionamento de coisas de tamanho médio na nossa escala se movendo em velocidades na nossa escala. Você pode usar Relatividade para fazer seus problemas de física no colegial se quiser, mas simplesmente não precisa, é que nem matar mosca com tiro de canhão. FN então pode ser considerada como um caso específico da Relatividade, não foi “desmontada”. E é assim que a ciência funciona, novas teorias aumentam o escopo e melhoram teorias anteriores, não necessariamente invalidando as mesmas.
O Felippe deixou um detalhezinho sobre Darwin de fora: ele manteve a sua teoria em segredo por décadas, porque tinha medo. Medo de ser ostracizado da comunidade porque contrariava o Criacionismo e o efeito que isso causaria.
Sobre o tal Gish:
Ainda esse mesmo argumento? Sério? A Terra não é um sistema fechado, ela recebe um fluxo constante de energia vinda do Sol. Por mais que se explique isso, gente como esse Gish simplesmente ignora, da mesma maneira que a tiazinha do vídeo.
E finalmente, a Valéria disse:
Como a Robes já falou, você está está completamente enganada. A ciência opõe completamente o criacionismo. Você tem que entender que as idéias que contradizem essa história de criação de mundo em 6 dias, 10 mil anos atrás, vem de todos os campos da ciência: astronomia, física, química, geologia, arqueologia, etc. É o que se chama de convergência. Os achados de um ramo de pesquisa científica são confirmados pelos achados de outros, formando uma estrutura sólida.
E isso é exatamente o que o criacionismo não tem. O máximo que criacionistas conseguem é apresentar coisinhas aqui e ali que a ciência não consegue explicar (ainda) e tentar com isso dizer que a ciência toda é inválida.
Preste atenção nisto aqui, que é importante. Se você não levar mais nada desta conversa, pelo menos leve isto: Mesmo que a todas as áreas da ciência estivessem erradas, isso não provaria que o criacionismo é correto. O máximo que isso provaria é que a ciência está errada. Invalidar uma teoria concorrente não valida a sua automaticamente.
Isso sem falar que criacionismo nem teoria é, porque não tem hipóteses que possam ser testadas e não apresenta provas próprias. A sua teoria, se quiser ser chamada disso e considerada seriamente, tem que se sustentar sozinha, independente de existirem teorias concorrentes ou não. Independentemente de qualquer opinião minha ou sua sobre o criacionismo, ele está muito longe disso.
A grande maioria dos cientistas atuais (e não estou falando de engenheiros, encanadores, advogados e etc que são frequentemente mencionados como “cientistas” por criacionistas) não leva os criacionistas a sério simplesmente porque eles não são sérios mesmo. Vide o exemplo do Gish acima, ou o vídeo que provocou este post.
Não estão interessados em promover o progresso científico, só estão interessados em forçar as idéias religiosas deles nos outros e torná-las oficiais. O dia que os criacionistas fizerem um esforço sério e apresentarem teorias propriamente construídas e baseadas em evidência que possa ser considerada seriamente, sem recorrer a distorções, mentiras, táticas esquivas, tenho certeza que eles serão ouvidos.
Pronto, usei todo o tempo que tinha para responder isto. Tenho que parar por aqui.
Valéria
A sua linha de argumentação é falha e infelizmente demonstra pouco conhecimento do que a ciência real (não aquele conceito de ciência que nos tentam vender para descartar qualquer discussão que contrarie o status quo) se propõe a fazer.
Primeiramente, em nenhum momento o post da Robes ou o meu disse que todos os cientistas atuais são evolucionistas.
Embora a teoria do Big Bang seja bem aceita, alguns cientistas e até mesmo pensadores se desdobram para entender o que aconteceu antes do Big Bang, ou até mesmo porquê o Big Bang aconteceu. Alguns argumentam ainda que se o Big Bang se deu por uma expansão da matéria ou explosão de um átomo primordial (embora exista mais de uma teoria para explicar o processo em si), ainda resta a pergunta de ‘quem criou o primeiro átomo’. Embora a pergunta não seja nova, já que pensadores pré-socráticos já se perguntavam se o mundo tinha sido criado ou se sempre existira, é aí que reside o questionamento da maioria dos cientistas sérios. Você há de concordar que existe um mundo de diferença entre se questionar o Big Bang e acreditar numa entidade consciente, um velhinho barbudo como alguns gostam de imaginar, que por estar entediado cria o mundo e o Universo em seis dias e coloca Adão e Eva no paraíso e uma serpente mágica guardando uma árvore com um fruto proibido. Os que acreditam na segunda versão, sinceramente, não podem ser levados a sério dentro do rigor do pensamento científico.
Outro problema com o criacionismo é que ele depende da cultura ou do período histórico em que está inserido. Por exemplo, qual criacionismo deveríamos aceitar? O Grego, o Egípcio, O Maia, o contido na mitologia nórdica? Embora você possa argumentar que essas não são religiões mas mitologias, há de ser enfatizar que toda mitologia é uma religião até o ponto em que não é mais praticada. Em dois mil é possível que passemos a nos referir ao cristianismo como mitologia judaico-cristã.
Você menciona ainda um artigo da revista Galileu, que embora tenha pinta de revista científica pra quem é leigo, não passa de uma revista de variedades. Enfim, o argumento desse Duane Gith (quem?) é repleto de falácias e mostra no mínimo uma postura extremamente cínica. Vamos as incongruências.
O método científico é, a priori, um método dialético. Explico: uma proposição é discutida e até mesmo contraposta até que se chegue a um novo patamar. Esse novo patamar é então discutido e contraposto, até que se chegue noutro patamar. É normal que dentro de um processo dialético proposições, ou teorias, sejam modificadas ou até mesmo descartadas. E é exatamente aí que a ciência passa a perna da religião. Se depois de muita discussão, seguindo diretrizes rígidas, uma determinada idéia for considerada falha, inacabada ou até mesmo incongruente, ela é modificada ou até mesmo descartada em benefício de uma explicação mais completa. A religião se baseia em verdades absolutas, indiscutíveis. Esse é a mais importante diferença entre ciência e religião. Religiões se baseiam em dogmas.
A ‘matéria escura’ é o nome dado a matéria hipotética que não possui luz, mas que interage gravitacionalmente com o resto da matéria do universo e explica o porquê dos corpos celestes não colapsarem dentro dos seus próprios campos gravitacionais. Proposta originalmente por Fritz Zwicky em meados de 1930 ela está em consonância com os modelos gravitacionais atuais e tem sido estudada com afinco desde então. Não foi simplesmente inventada e deixada de lado como verdade absoluta para ‘tapar um buraco. Mesmo assim, a matéria escura é uma hipótese, e se daqui a 50, 100 anos os cientistas encontrarem um outro modelo mais convincente eles ficarão felizes em abandoná-la.
Com relação a segunda lei da termodinâmica, o referido ‘cientista’ continua errado pois adota uma explicação simplificada para um problema complexo. Segundo Stephen Hawking em seu livro “Uma Breve História do Tempo” (Editora Rocco, 2000, páginas 204-205).
“A memória de um computador é apenas uma invenção contendo elementos que podem existir em um de dois estados. Um exemplo simples é um ábaco. Em sua forma mais simplificada consiste em uma fiação; em cada fio há uma conta que pode ser colocada em uma de duas posições. Antes que uma informação seja registrada na memória de um computador, ela está em estado desordenado, com iguais probabilidades para um ou outro estado. Depois que a memória interage com o sistema para ser lembrado, estará definitivamente um um estado ou outro, de acordo com o estado do sistema. Assim a memória terá passado de um estado desordenando para ordenado. Entretando, a fim de ter certeza de que a memória estará no estado correto, é necessário usar uma quantidade de energia (para acionar o computador, por exemplo). Esta energia de dissipa sob a forma de calor e aumenta a quantidade de desordem do universo. Pode-se demontrar que este aumento de desordem é sempre maior do que o aumento de ordem da própria memória. Assim o calor exepelido pela ventilação do computador significa que, quando um computador registra um dado em sua memória, a quantidade total de desordem no universo aumenta. A direção do tempo em que um computador recorda o passado é a mesma em que a desordem aumenta. Nosso senso subjetivo de direção do tempo, a seta psicológica do tempo, é, portanto, determinado dentro de nosso cérebro pela seta termodinâmica do tempo. Como um computador, devemos lembrar das coisas na ordem em que a entropia aumenta. Isso torna a segunda lei da termodinâmica quase trivial. A desordem aumenta com o tempo porque se mede o tempo na direção em que a desordem aumenta. Não se pode fazer afirmação mais segura do que esta!
Mas por que deveria existir a seta termodinâmica de tempo, afinal de contas? Ou, em outras palavras, por que o universo deveria estar num estado altamente ordenado numa extremidade de tempo, extremidade que chamamos de passado? Por que ele não fica em estado de completa desordem em todos os tempos? Afinal de contas, isso pareceria mais provável. E por que a direção do tempo em que a desordem aumenta é a mesma daquela em que o universo se expande?”
Mauro, valeu pelo espaço no blog e pela consideração e disposição em ler e comentar o que se escreve aqui.
Foi mal o negócio do “desmontam” teorias, pois foi uma expressão equivocada.
E o lance do “deixar pra lá”, de fato, não se aplica a determinados tipos de realidade.
Valéria, tenha fé!
Cara, passei um trabalhão com a minha vó (85 anos), pois a veia é religiosa mas nunca se preocupou com a questão primordial: o CRIACIONISMO! Tive que explicar pra ela tudo bem direitinho e só quando ela entendeu bem e concordou é que eu pude dizer pra ela que ela era burra!
Estou pensando em reunir a família pra fazer isso de novo, pois vai dar muito trabalho individualmente, principalmente com os mais velhos.
Atheist Rules!
“Você pode usar Relatividade para fazer seus problemas de física no colegial se quiser…”
Mostra pra eles, Companheiro Ferreiro!
No final da disciplina de Introdução à Astronomia (lá no início do curso de Física na UFRGS) foi feito um exercício de cálculo para se colocar uma sonda em órbita* de Marte, considerando o peso da sonda, o local de lançamento na Terra e o ano Juliano… não lembro direito… aquilo tudo que tu já sabe. Mas como seria isto em termos de Teoria da Relatividade?
*para os que não sabem ciência, órbita (planetária) “simplificadamente” é um corpo se deslocando por entre dois vetores de força, o da gravidade e um outro perpendicular a este… a velocidade imposta pelo segundo vetor compensa a curvatura do planeta que atrai o corpo…a Lua está caindo e ainda assim ela se afasta da Terra cerca de 3 cm ao ano… né, Mauro…mas isto é relativo!
Tá errado!
“a velocidade imposta pelo segundo vetor compensa a curvatura do planeta que atrai o corpo”
Desculpa, Isto fica melhor assim:
A velocidade imposta pelo segundo vetor compensa a “queda” do corpo, o qual atinge a curvatura do planeta que atrai este corpo.
Eita Burro!
Atheist Rules!
Hummm. Esse negócio de órbita não ficou legal.
Vou deixe o Mauro explicar melhor com a Teoria da Relatividade… se bem que o Einstein falava num tal DEUS das Coisas(Acreditava que Deus se revelava através da harmonia das leis da natureza- WIKI)…sei não.
Robson, Einstein usava “Deus” como uma metáfora para os mistérios por trás do universo que a gente não tem como perceber. Ele era quase um deísta, mas ao invés de um deus, ele venerava a estrutura das leis do universo e tomava uma posição agnóstica sobre a possibilidade de se saber se existe algum deus ou não.
Engraçado que tem sempre um criacionista que cai de pára-quedas numa discussão desse tipo, geralmente eles entram com um discurso típico no esquema “vamos catequizar esses ateus” e me citam a revista Galileu ou a Superinteressante como referência.
As vezes acho que não vale a pena discutir com esse tipo de gente, afinal a fé não é baseada em argumentos e não serve como argumento para um ateu se converter a qualquer coisa.
Agora quando o assunto é o que deve ser ensinado nas escolas sou completamente contra ensinar o Criacionismo “Pseudo-científico”, que não passa de uma doutrina dogmática cristã.
Muita gente xingou a Proposta Curricular lançada pelo governo de São Paulo, mas achei bem legal eles adicionarem as teorias de origem da vida e da evolução para as séries do Ensino Fundamental, pelo menos mostra que alguém por aqui ainda age com bom senso.
*completamente ignorando o debate que rolou antes de eu cair de paraquedas* Eu desacreditei quando começou o boato de querem ensinar criacionismo aqui nas escolas também. James costuma falar (e eu concordo em número, gênero e grau) que se os pais escolhem ensinar isso a crianças, fair enough, inscreva-as na catequese, na escola dominical, o que fôr. Mas impôr, jamais. Escola deve ser lugar de desenvolvimento intelectual, e ensinar algo como criacionismo como única razão do mundo existir é irresponsável.
Mas pelo menos por enquanto, foi só um doido que propôs isso, e por enquanto aqui ainda se pode pedir para excluir seus filhos da matéria religião, se os pais assim o desejarem…
*nem vou perder tempo com o vídeo, prefiro ler mais blog, já que vc já resumiu tudo mesmo, hehe*